Conceição Abreu
ENTRE LINHAS DE PESCAR E DE TECER
Curadoria de Sofia Marçal
Inauguração: 9 setembro, a partir das 17h
Exposição: de 10 setembro a 05 dezembro, de 2023 | terça a domingo das 10:00h-18h
Rua D. Carlos I, 8500-607 Portimão
Entre a impermanência do lugar e a permanência de viajar, o gesto do fazer
por Sofia Marçal
A exposição Entre as linhas de pescar e de tecer de Conceição Abreu, que se realiza no Museu de Portimão, foi idealizada com o propósito de criar, numa perspetiva contemporânea, um diálogo com a coleção etnográfica deste museu. A artista apresenta uma seleção de trabalhos de diferentes tipologias, com variadas técnicas, como sejam, desenhos, esculturas, instalações e fotografias que vão ao encontro da temática do museu, onde as linhas de pescar e de tecer se encontram. O compromisso da artista com o seu trabalho leva-a a procurar os limites dos materiais e das matérias, concretizando-os em obras de arte e conferindo-lhes a imortalidade. “Nada como a obra de arte demonstra com tamanha clareza e pureza a simples durabilidade deste mundo de coisas; nada revela de forma tão espetacular que este mundo feito de coisas é o lar não-mortal de seres mortais.”[1] Na exposição expande-se a ideia de perpetuidade à conceção de redes de pesca pelos pescadores.
O museu de Portimão ligado às práticas da pesca e por consequência ao mar, às noções de partir e voltar, e inclusive a similitude dos seus gestos e do fazer dos pescadores, inspiraram Conceição Abreu a idealizar esta exposição. Uma mostra que foi concebida dentro daqueles elementos ou tópicos, e que foi desenhada tendo como ponto de partida uma obra sua Destempo (em branco) de 2015 — uma peça tecida com fio de nylon (normalmente usado como fio de pesca) e linha de algodão (próprio dos trabalhos manuais efetuados em crochet, como podem ser exemplo as colchas brancas que noutros tempos cobriam as camas) —, na qual ecoa o ditado popular “onde há redes, há rendas”.
Citando Conceição Abreu, “ligada às povoações do litoral com atividade piscatória, emergem as noções de viagem e de lugar, que aqui se desenvolvem na sua ligação e entretecimento, tendo como imagem as linhas que as unem e entrelaçam”. As obras expostas resultam, pois, desses cruzamentos com os quais se formaram tecituras e malhas. Prática performativa com a qual a artista ensaia a gestualidade da fabricação das redes e do tecer, e que organiza em movimentos concretos, mas também mentais — transformando, como a própria artista diz, “o lugar (da prática, do fazer) em viagem e dando a essa viagem um sentido de lugar.”
Deambulações (entre viagem e lugar) que na literatura também encontramos, como pode ser exemplo Marguerite Duras, em que a inconstância, esse desejo de viajar e de permanecer, se revela na sua escrita, nos seus livros, — “este livro, que eu queria que fosse uma autoestrada em questão, que devia ir a toda a parte ao mesmo tempo, vai ficar a ser um livro que quer ir a toda a parte e só vai a um lugar de cada vez, e que torna a voltar e a partir novamente como toda a gente, como todos os livros, a menos que se calem, mas isso, isso não se escreve.”[2] Numa mesma ideia em que esta exposição pretende ser, simultaneamente, viagem e permanência visual e estética.
A Exposição Entre as linhas de pescar e de tecer reflete ainda o percurso que Conceição Abreu tem vindo a fazer, na sua incessante procura da simplicidade do gesto, na pureza dos materiais utilizados na construção dos seus trabalhos e na subtileza e clareza do seu traço, do seu desenho. Como resultado esta exposição é quase uma exposição retrospetiva onde a leveza das obras expostas se enquadra numa narrativa poética expandida no tempo
[1] Hannah Arendt, in: A condição Humana, p. 181.
[2] Margarite Duras, in: A vida material, p.14.
Conceição Abreu
Conceição Abreu, (Sintra, 1961). Artista visual e investigadora. Vive e trabalha em Lisboa. Doutorada em Arte e Design (DAD) pela FBAUP (2018). Mestre em Arte Multimédia – Fotografia, pela FBAUL (2012). Licenciada em 2010 com Bacharelato em 1989 em Dança pela Escola Superior de Dança de Lisboa. Projeto Individual em Pintura (2000) e Estudos Completos de Pintura (1998) ambos da Escola Ar.Co. Expõe regularmente, desde 1999, em Portugal e no Estrangeiro. Foi representada pela Galeria Caroline Pagès de 2007 a 2019. Encontra-se em diversas coleções em Portugal, França e Austrália.