Nuno Cunha
So far
Inauguração: 06 setembro, from 18h to 20h
Exposição: 07 a 30 de setembro, 2023
Segunda to Sábado 14h30 to 19h00
GALERIA SÁ DA COSTA
Rua Serpa Pinto, 19, 1200-443 Lisbon
A exposição individual So far que Nuno Cunha apresenta agora na Galeria Sá da Costa mostra um conjunto de trabalhos das suas duas últimas séries, Folds of time e So far, desenhos, em tinta da china ou grafite e acrílico sobre papel que pretendem convidar o espectador a uma reflexão sobre o modo como encaramos o espaço e o tempo.
Sobre estes trabalhos Vítor Hugo D.N. Leal escreveu:
So far
“A série So Far de Nuno Cunha revela-nos um pensamento abstracto sobre a vida na sua condição mais fundamental.
Observamos a expressão da paixão pelas potencialidades da vida, num regime de intensidades no campo de uma vida própria nas suas relações com o exterior, com os eventos, com as estruturas, com as instituições e pessoas que ocorrem na nossa vida. São eventos dinâmicos, aglomerados de padrões integrados em imagens de si enquanto objecto e enquanto sujeito.
A paixão pela vida em azul marinho vibra em traços que percorrem a folha branca em relações dinâmicas ondulatórias que desafiam as estruturas vectoriais negras que integram a sua vida e por isso integram igualmente o seu eu.
São vibrações de átomos, vibrações de emoções, vibrações de sentimentos que o azul emana nas suas expressivas gradações resultantes dos múltiplos movimentos exteriores e interiores ocorridos ao longo da vida.
O azul da criança interior de Nuno Cunha é o azul que impactou a sua mente em criança, mobilizando emoções e sensações de uma vida por descobrir, de uma vida por viver, de uma vida de possibilidades por descobrir e experienciar, expressando essa primordial condição de criança fascinada por cada dia.
O negro do grafite representa as demais estruturas que compõem o Eu, interiores e exteriores elementos, a negro, revelando uma estruturação do eu em sociedade. Linear circunscrição, contínua, bem definida e moldável em curvas que percorrem a alvura do papel. No interior desse campo as texturas, linha e texturas negras feitas a grafite. Material menos permanente que pode ser eliminado da superfície do papel. Como o campo de intensidades da nossa vida exteriorizada, em comum com quem nos rodeia, o espaço de integração relacional de ser Eu no palco da vida em sociedade.
Há um pensamento expresso em So far resultante da dialéctica entre a criança interior, das arrebatamento pela vida por descobrir, e do homem resultante da vivência dessas experiências que se forma na sociedade. É um pensamento que não se traduz em palavras, que é abstracto por natureza, na sua mais pura essência. Apenas se expressa por traços únicos e expressivos em resultado directo da tradução em emoções desse pensamento que guia a mão do artista sobre a folha branca.”
por Vítor Hugo D.N. Leal
Folds of Time
“ Folds of Time, dobras de tempo – que são definidas como compressão de espaço-tempo para ligação ou aproximação entre dois pontos no espaço e tempo estabelece igualmente diferenças de condições de tempo, de uma plasticidade temporal tanto efectiva como percebida.
O espaço e o tempo na sua materialidade. A energia eléctrica conduzida pelos cabos e suas derivações, num conjunto de níveis de energia. Átomos gravitando em regime de menor densidade, a electricidade, e átomos gravitando em regime de maior densidade, os cabos de condução da electricidade.
Tudo é energia, corpo humano, pensamento que activa os neuro-receptores, estes mesmo são energia mais densa: Tudo é energia em variações de densidade e estabilização mas todos energia, todos vibrando e se movimentando no espaço-tempo.
Os cabos condutores de electricidade são manipulação de energia por parte do homem, criando diferentes características de densidade para regular e direccionar a energia eléctrica que activa inúmeros dispositivos, lâmpadas, frigoríficos, automóveis.
Assim somos energia manipulando energia, redefinindo a nossa condição de ser e estar no mundo, redefinindo o mundo. Definindo uma emergência sobre a noção de tempo, o tempo de permanência dos fios e conexões e o tempo em fluxo da electricidade que atravessa os cabos, assim como a temporalidade virtual em jogos de actualização da informação que as percorre.
Dobramos o tempo, ao manipular a energia, a velocidade de transferência e os eventos possíveis em sucessão ou simultaneidade nas nossas vidas.
Tempo e espaço tendo a energia como constituinte do todo em que nos encontramos, entre o real e o fenomenológico, como manifestação dos fluxos da vida. O fluxo da vida é uma energia ininterrupta que para melhor conhecer exige uma descida à profundidade de nosso ser, de quem somos. Conhecer essa energia e conhecermo-nos é uma condição indissociável. O fluxo da vida é uma energia ininterrupta que para melhor conhecer exige uma descida à profundidade de nosso ser, de quem somos. Conhecer essa energia e conhecermo-nos é uma condição indissociável.”
por Vítor Hugo D.N. Leal
Nuno Cunha
Nasceu em Coimbra em 1956, vive e trabalha em Castelo Branco. É um artista multidisciplinar e desenvolve obra numa ampla gama de meios: desenho sobre papel, mixed media, acrílico sobre tela, fotografia, vídeo, escultura, instalação, site-specific, performance/happening, com cruzamentos gramaticais e lexicais entre os diversos meios de expressão.
A estranheza e o imprevisto resultam num primeiro contacto com o seu trabalho. As obras mostram uma outra realidade, inesperada, por vezes incómoda, decorrente da reflexão sobre a percepção do espaço, do tempo, do significado e da insignificância, das sensações e dos afectos, da identidade e da autoria e, sobretudo, da arte e dos seus limites.
A obra é desenvolvida em projectos que integram vários trabalhos, subordinados a uma ideia ou tema, que serve de título geral e reflecte os conceitos de base das séries: “time has memories”; “folds of time”; “intimate”; “never more”; “juxtaposed narratives”, “unlinked worlds”; “pain”; “so far”. O seu trabalho procura questionar expectativas e ideias estabelecidas relativamente aos temas abordados, frequentemente com ilusão da própria observação.
Nuno Cunha é professor de Arte Contemporânea da USALBI (Universidade Sénior Albicastrense) desde 2018 e co-fundador do Grupo de Arte Contemporânea (GAC). Foi director da Galeria Uno, Centro Cultural de Belém (2000-2002), manteve colaborações regulares com a revista ArtNotes, foi responsável pela secção de Artes Plásticas da revista NS, suplemento de sábado do Diário de Notícias e Jornal de Notícias (2008/2010), e da revista “Domingo”, suplemento do “Correio da Manhã”, (2000-2002). Coordenou o comissariado e o apoio à produção da exposição “Portugal”, ocorrida na inauguração do Centro de Arte Contemporânea de Vilamoura (2009), por ocasião do XXXº Congresso Português de Cardiologia. Da sua atividade como conferencista, destaca-se a sua participação, na Universidade de Coimbra, num ciclo sobre Comunicação Social e a sua participação como orador convidado no III Encontro Transfronteiriço Mouseion, subordinado ao tema “Arte Contemporânea e museus periféricos. Por uma fronteira porosa”.
Do seu currículo constam ainda 17 anos de jornalismo e de colaborações em múltiplos jornais diários, semanários e revistas. É autor de inúmeros artigos sobre Artes Plásticas e Visuais.
Está representado em diversas coleções públicas e privadas em Portugal, França, Bélgica e Russia, com destaque para as coleções do Museu Francisco Tavares Proença Júnior, Castelo Branco; do Musée du Petit Format, Nismes, Bélgica; da Fleiss, Paris, França, do LCC, Lisboa e da Perve, Lisboa.