In EXPO PASSADA

Rui Matos

NATURA

Opening: September 14 , from 6 pm to 8 pm
Exhibition: September 15 to 28
Monday to Saturday 14h30 to 19h00
SÁ DA COSTA GALLERY
Rua Serpa Pinto, 19, 1200-443 Lisbon

Da Natureza

por José Sousa Machado

 

´… percebi de súbito, com uma ardente claridade interior, que era eu aquela árvore no cimo da colina.´

Gustav Meyrink, “O Anjo da janela do Ocidente

O conjunto fotográfico de Rui Matos exposto agora na galeria Sá da Costa é complementar da sua longa e profícua actividade regular de escultor, patente na exposição visitável até 15 de Outubro na Sociedade Nacional de Belas Artes, intitulada “a sequência dos dias”.

Se algumas das suas esculturas recentes se assemelham a desenhos tridimensionais no espaço, polvilhados de acontecimentos inusitados protagonizados por formas, volumes, casulos e vazios que interagem entre si em equilíbrios instáveis, as plantas silvestres que o artista recolheu nas imediações do local onde habita e fotografou em seguida, são uma condensação dessas mesmas qualidades transpostas para estruturas orgânicas perecíveis; extravagantes às vezes, voluptuosas outras tantas vezes, remetendo-nos quase sempre para épocas imemoriais.

Uma papoila registada pelo artista nos instantes imediatamente anteriores à sua floração rutilante, envolvida ainda numa cápsula de penugem com notórias afinidades com as armaduras medievais; ervilhas selvagens de forte sugestão erótica; a delicadeza impar do desenho de uma espiga de filamentos concêntricos; uma alcachofra altiva coroada de espinhos ameaçadores; um cogumelo esponjoso e táctil com a forma de uma caldeira e alhos porros abismados na sua extravagância pontiaguda são içados pelo olhar de Rui Matos da vulgaridade da sua condição campestre anónima para o estrelato de uma existência singular de beleza inigualável.

“O ponto de observação de cada uma das plantas fotografadas é o nível dos olhos para que ela seja facilmente perceptível pelo observador enquanto corpo de escultura”, afirma o artista acerca da metodologia adoptada. Rui Matos reconhece também a influência decisiva que recebeu de Karl Blossfeldt (1885-1932), magnífico fotógrafo alemão, autor de dois livros que despertaram grande interesse no primeiro quartel do século XX – “Formas Arquetípicas da Arte”(1929) e “O Maravilhoso Jardim da Natureza” (1932) – e, curiosamente, também ele, professor de escultura em Berlim, entre 1898 e 1932.

Se, por um lado, cada uma das fotografias agora expostas corresponde a um momento extremamente efémero na vida da planta correspondente, por outro lado, o processo cíclico da sua existência temporal permite-nos absorver e integrar em nós mesmos a continuidade de algo que não tem princípio nem fim, de algo intemporal, um microcosmos representando a criação primordial, quando o espírito era único, inteiro, e harmonizado com a natureza, reproduzindo, nas palavras de Yvette Centeno (“A Arte de Jardinar”), o “espaço atemporal da criação”, o famoso jardim das Hespérides, que era uma ilha de pomares de macieiras, ou a ilha celta de Avalon.

O olhar de Rui Matos é semelhante à mão do jardineiro descrito por Byung-Chul Han em “Louvor da Terra”:  “O jardineiro também é um coleccionador. Deixa que as flores o inspirem. Eu medito sobre a mão do jardineiro. Que toca ela? É uma mão amorosa, que espera, paciente. Toca o que ainda não existe. Cuida da distância. Nisso consiste a sua felicidade.”

Rui Matos

Nasceu em Lisboa em 1959, vIve e trabalha próximo de Sintra.

Nos anos 80 frequentou o Curso de Escultura da Escola Superior de Belas Artes de Lisboa. Foi bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian em 1993.

Em 1987 realiza a primeira exposição individual “Órgãos e Artefactos” em Lisboa com esculturas em ardósia. Segue-se “Primeira Ilha” e “Mediterrâneo” no Porto com esculturas em gesso-bronze. A primeira exposição em pedra é de 1991 “Enormidade Sequência e Naufrágio” a que se segue “Transformações-Relatos Incertos”, “Objectos de Memória” e “Histórias In- completas”. Em 2008 começa a trabalhar em ferro com as exposições “A Pele das Coisas” em Lisboa no Teatro Camões, “Transformo-me naquilo que toco “ na Giefarte , “Por Dentro” na Fundação das Comunicações, “O Visionário” com Rui Cunha Viana na Galeria Monumental em Lisboa, “ O tempo, os lugares, a memória, a fortuna dos dias” no MU.SA em Sintra, “Transmutações” na Sá da Costa em Lisboa, “Histórias de outras Idades” no Convento do Espirito Santo em Loulé, “Perdido na viagem de regresso” Paços Galeria Municipal de Torres Vedras. “O luar da montanha suavemente ilumina o ladrão de flores” CAE Figueira da Foz. “As Figuras dos sonhos estão mais próximo de mim”. Espaço T no Porto. “Qualquer saída da lógica da lingua- gem pode ser a entrada num dicionário revelador” Livraria Sá da Costa-Es- paço Camões em Lisboa. “Através da Superfície”. Fundação Luís em Cascais. “Fora de um mapa conhecido” no Colégio das Artes em Coimbra e “A reconstrução da memória” no Palácio da Galeria em Tavira.

Realizou esculturas públicas em Chaves, Durbac (Alemanha), Aveiro, Lisboa, Cascais, Oeiras, Caldas da Rainha, Vila Franca de Xira, Alfândega da Fé, São Pedro do Sul, Belver, Portalegre, Almada, Seixal e Vila Nova de Gaia.

Coleções: Caixa Geral de Depósitos, Museu Dr. Santos Rocha, Fundação PLMJ, Fundação Vítor e Graça Carmona e Costa

Sem título, 2020–22
Impressão digital a tinta de latex sobre vinil /  Digital printing with latex ink on vinyl
Dimensão / Dimension: 86 X 130 cm
Sem título, 2020–22
Impressão digital a tinta de latex sobre vinil /  Digital printing with latex ink on vinyl
Dimensão / Dimension: 86 X 130 cm
Sem título, 2020–22
Impressão digital a tinta de latex sobre vinil /  Digital printing with latex ink on vinyl
Dimensão / Dimension: 86 X 130 cm
Sem título, 2020–22
Impressão digital a tinta de latex sobre vinil /  Digital printing with latex ink on vinyl
Dimensão / Dimension: 86 X 130 cm
Sem título, 2020–22
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Dimensão / Dimension: 86 X 130 cm
Sem título, 2020–22
Impressão digital a tinta de latex sobre vinil /  Digital printing with latex ink on vinyl
Dimensão / Dimension: 86 X 130 cm
Sem título, 2020–22
Impressão digital a tinta de latex sobre vinil /  Digital printing with latex ink on vinyl
Dimensão / Dimension: 86 X 130 cm
Sem título, 2020–22
Impressão digital a tinta de latex sobre vinil /  Digital printing with latex ink on vinyl
Dimensão / Dimension: 86 X 130 cm
Sem título, 2020–22
Impressão digital a tinta de latex sobre vinil /  Digital printing with latex ink on vinyl
Dimensão / Dimension: 86 X 130 cm
Sem título, 2020–22
Impressão digital a tinta de latex sobre vinil /  Digital printing with latex ink on vinyl
Dimensão / Dimension: 86 X 130 cm